“Sorôco, sua mãe e sua filha”, de Guimarães Rosa

O conto trata de um homem chamado Sorôco. Ele, assim como as pessoas que estavam ao seu redor, era muito pobre. O homem era muito sozinho, tinha apenas sua filha e sua mãe que estavam sendo levadas por ele para um hospício.

A mãe era uma figura triste e a filha estava enfeitada com panos e papéis coloridos,  cantando muito alto. Os três, de braços dados, desciam a ladeira que chegava em um vagão de trem. Este gigante objeto de metal contrastava muito com o ambiente humilde. Quando elas foram embora, Sorôco ficou só. Todos que estavam a assistir a cena acompanharam Sorôco até sua casa, cantando a canção que a filha cantarolava.

Porém, não é a história que mais chama a atenção, mas sim o modo como ela é contada.

Ao longo do conto, pode ser observado um plano do conteúdo (no qual é contada a história) e um plano da expressão. Esta segunda característica pode ser demonstrada no trecho: “O carro lembrava um canoão no seco, navio.”. Com a frase, o narrador demonstra o contraste existente entre o carro e o humilde local onde ele está.

Também se destaca a função estética, por exemplo, em um trecho do conto, o nome de Sorôco aparece isolado entre parágrafos. Os espaços existentes ao redor da palavra demonstram a solidão em que Sorôco se encontrava quando sua filha e sua mãe foram embora.

O narrador é em terceira pessoa, porém pode ser confundido com primeira, pois ele se coloca no lugar dos personagens, como pode ser visto no trecho: “ A gente olhava” ou “ A gente reparando, notava as diferenças.”. Porém, não há frases que se refiram ao próprio narrador, apenas sobre a cena, demonstrando que ele é em terceira pessoa. O narrador desempenha uma função ideológica, como é demonstrado no trecho: “Para onde ia, no levar as mulheres, era para um lugar chamado Barbacena, longe. Para o pobre, os lugares são mais longe.”.

O narrador conta a história na perspectiva de uma pessoa que mora na área onde o personagem principal vive. O narrador conta algumas coisas sobre Sorôco e sua vida, “A mãe de Sorôco era de idade, com para mais de uns setenta. A filha, ele só tinha aquela. Sorôco era viúvo. Afora essas, não se conhecia dele o parente nenhum.”. Isto demonstra uma proximidade relativa com o personagem. Porém, não é descrito o pensamento ou sentimento de nenhum dos personagens, apenas algumas deduções possíveis de serem feitas por alguém que está vendo a cena, “a gente viu a velha olhar para ela, com um encanto de pressentimento muito antigo – um amor extremoso.”. Isto pode confundir ainda mais o leitor, podendo achar que o narrador está em terceira pessoa.

Outra característica do narrador que demonstra uma proximidade com os moradores da região onde se passa a história é o vocabulário. Ao longo de todo texto, são usadas palavras como: “muitas pessoas já estavam de ajuntamento”, “homenzão, brutalhudo”, “ir-s’embora”, entre outras palavras. Estas expressões representam uma fala característica da região.

Ao mesmo tempo, quando são descritas as características do local, parece que fazemos parte da multidão, “A hora era de muito sol – o povo caçava jeito de ficarem debaixo da sombra das árvores de cedro. O carro lembrava um canoão no seco, navio.”. O modo como o texto é escrito também demonstra uma relação íntima com o povo que está vendo e participando da história.

O espaço da história parece ser construído como um local em Minas Gerais pobre, quente e longe de Barbacena. Estas características podem ser relacionadas com os moradores de lá: Eles eram pobres, estavam com muito calor e “Para o pobre, os lugares são mais longe”. Porém havia algo diferente: lá havia um vagão de trem que contrastava muito com o resto do espaço. Havia uma multidão na frente da máquina para ver as mulheres que iam embora com ele. Se os o espaço onde se passa a história representam um local natural para os mais carentes e algo visto como ruim, este vagão pode ser visto como algo de cidades melhores, que trará melhorias para todos. Pode-se concluir isto, pois os personagens acreditavam que a ida das mulheres melhoraria a vida de todos, apesar do vagão contrastar muito com tudo aquilo que eles estavam acostumados, assim como as melhorias e reformas que podem acontecer nas cidades menores.

Os personagens também ajudam nesta interpretação: eles representam o povo que acredita que, ao mandar para longe aquilo que é diferente do ideal (no caso as filhas), tudo melhorará. Sorôco representa alguém que faz sacrifícios pelas melhorias na sua cidade, como aqueles que perdem suas casas nas operações urbanas.

Estes personagens e o espaço ajudam a criar a imagem triste e pobre que é formada ao longo do conto, na qual um grande aglomerado de pessoas esperam no sol quente as duas mulheres partirem. Porém, a tristeza era afugentada com a cantiga da filha de Sorôco.

O aspecto que mais se destaca é a cantiga que a filha de Sorôco principiou. “a cantiga não vigorava certa, nem no tom nem no se-dizer das palavras – o nenhum”. Depois de algum tempo, a avó dela começou a cantar também, como se as duas estivessem, mesmo não compreendendo o que estava acontecendo, espantando a tristeza que prevaleceria com a partida.

Quando as mulheres vão embora, Sorôco começa a cantar também e todos o acompanham. “E foi sem combinação, nem ninguém entendia o que se fizesse: todos, de uma vez, de dó do Sorôco, principiaram também a acompanhar aquele canto sem razão. E com as vozes tão altas! (…) A gente, com ele, ia até aonde que ia aquela cantiga”. Como se a canção representasse tanto uma dolorosa partida, como uma camuflagem da tristeza. Deste modo, todos mostram que a partida das mulheres que foi descrita na história não era apenas mais um acontecimento na cidade, ou mais uma história que foi lida, mas uma ação constante em locais carentes, como o da história: a camuflagem da tristeza com a música, neste caso.

 

Helena Manásia Schröter, 1°A

“Cem anos de perdão”, de Clarice Lispector

O conto se passa em um  bairro rico de Recife, próximo a um palacete. Este lugar, que tem a beleza como uma de suas principais características, tem um jardim também muito bonito, que chama a atenção das personagens do conto. A partir daí, a história “começa” (fatos importantes ocorrem).

Um dia, duas meninas passaram por esse bairro e avistaram tal palecete, que chamava a atenção. Elas queriam se apropriar dele, mas não podiam. Uma delas ficou encantada com uma das rosas que viram neste mesmo lugar, e então, a roubou, tomando cuidado para não ser vista. O enredo basicamente se desenvolve em torno dos pensamentos para tal roubo, já que o desejo por aquela rosa, para esta menina, era tão grande. Enquanto ela pegava as rosas, sua amiga vigiava, para que ninguém as visse. Com o passar do tempo, passaram a roubar não só rosas com frequência, como pitangas também.

Apesar do narrador dizer que não se arrepende por roubar rosas quando pequena, o leitor nota que ela nunca esqueceu esse fato,
conservando em sua memória todos os detalhes (inclusive os emocionais) da primeira vez em que roubou rosas, e procurando desculpar-se ao dizer que tem cem anos de perdão.

Podemos classificar resumidamente, as partes que constituem o conto,  tais como a situação inicial, o conflito, o clímax e o desenlace. A situação inicial é basicamente o fato das duas amigas olharem para os palacetes. O conflito se dá quando uma delas teve o desejo de uma flor. O clímax, por sua vez, é o roubo da flor, pois o resto do conto se baseia em tal ato. Já o desenlace, é o fato das meninas passarem a não roubarem apenas flores, como pitangas também, e isso indica que ambas gostaram e continuaram o que estavam fazendo (roubar).

Apenas duas personagens fazem parte deste conto e estas são apresentadas ao leitor logo no começo. Ao decorrer deste, alteramos a imagem que tínhamos sobre ambas, pois não imaginaríamos que elas roubariam flores/pitangas, já que no começo, parecem ser inocentes.  Uma destas meninas é a narradora. Ela pode ser caracterizada por uma narradora em primeira pessoa protagonista, e também conta a história através de uma posição central, pois já que não narrou algo momentâneo, está distante dos acontecimentos, mas apesar disto, nos conta detalhadamente tudo o que aconteceu, e então, notamos que todos os eventos, personagens e elementos da história giram ao seu redor.  Já a sua amiga, pode ser caracterizada como uma personagem co-protagonista, pois possui uma relação próxima com o protagonista e o ajuda na busca de seu objetivo, ou seja, no roubo das rosas.

O espaço em que o conto se passa compromete o que as personagens farão ao decorrer do mesmo, isto é, o que elas fizeram dependeu de onde estavam. Pelo fato de, logo no começo, avistarem um palacete que se situava em um bairro rico, ficaram comovidas com o mesmo e é a partir desta comoção que o conto se desenvolve. 

Notamos que, para o narrador, a rosa era um desejo inevitável, ou seja, a menina tinha necessidade de possuí-la. Não sabemos ao certo porque ela tinha um desejo tão grande em robar rosas, talvez para tentar substituir outras necessidades que tinha, como o desejo daqueles palacetes, ou apenas por vontade de cometer um um erro.

Quando a menina se depara com a rosa, se distancia daquilo imposto pela sociedade (cultura), ou seja, da proibição do roubo, e então, a partir daí, os valores, os princípios, as normas, as regras e os costumes são deixados de lado. A menina
deseja a rosa, sem medo do que pode acontecer, pois enfrenta com muita naturalidade o fato de ter que roubá-la se quiser possuí-la. Este ato é considerado natural, apesar de parecer errado. A menina então enfrenta o mal e experimenta praticar ações consideradas pela sociedade como criminosas, assim como dito anteriormente.

Pode-se perceber que esse conto relaciona o ato de roubar flores e pitangas com o erotismo, que não se expressa explicitamente. Ao decorrer da narrativa, imaginamos detalhadamente as descrições deste ato e o conto nos surpreende, pois logo no começo notamos que ele seria simples, mas depois, tudo muda. A autora faz com que  nos aprofundemos mais na história narrada, devido ao aprofundamento na descrição detalhada do roubo da rosa e das pitangas, e a predominância da cor vermelha. Esse conto nos comove, pois a menina não queria apenas furtar flores e pitangas.

 

Giovanna Maielo Occhialini, 1°A

“Mana Celulina, a esferográvida”, de Mia Couto

O conto é sobre uma família tentando resolver uma situação embaraçosa, onde Celulina, filha de Salomão, está grávida porém não diz quem é o pai desta criança. Seu pai está acusando seu vizinho de ter abusado de Celulina e de tê-la engravidado. Por isso eles convocam uma reunião para resolver o assunto, porém no final, nada se resolve. Mas na verdade, o homem que engravidou Celulina fora seu próprio irmão, que além de personagem é narrador em 1ª pessoa.

O narrador, além de dar a direção e seu ponto de vista sobre  a situação também descreve o espaço, porém este espaço não tem tanta influência na narrativa. Este narrador desempenha a função de organização e direção do texto, sem sua narração, não estariam claros alguns detalhes de espaço e personagens da narrativa. O narrador também mostra a história do seu ponto de vista, o que dá para imaginar através de suas descrições o que os outros personagens estão passando.

As outras personagens são tipos, ou seja, elas não apresentam contradições diante da situação e são compostas em torno de uma ideia, porém todas as personagens são fundamentais para que o leitor entenda a história.O leitor nesta narrativa, espera até o final para entender o que ocorreu no fim da situação, pois só é possível compreender o que aconteceu ao ler a história até o final.

 

Fernanda Pinedo, 1°A

“O menino que escrevia versos”, de Mia Couto

O conto “O menino que escrevia versos” é sobre um garoto que era considerado problemático pelo simples fato de representar suas emoções através da escrita. Seu irmão o havia denunciado aos pais, que achavam que ele tinha esse problema por frequentar a escola, e decidiram levá-lo a uma consulta médica para curar essa “doença”. O garoto afirmava não ter uma vida e por isso escrevia sem parar, porém, os pais não entendiam e continuavam insistindo em uma consulta. O médico, depois de analisar os versos, pediu para que o menino fosse internado em sua clínica e, após um tempo, se rendeu aos versos do garoto. O conto acaba com o doutor pedindo mais e mais, ele queria que o garoto continuasse a ler.

O conto possui quatro personagens: o pai, a mãe (Dona Serafina), o médico e o garoto. O pai era mecânico, preguiçoso, não gostava da escola e era um tanto ignorante, sendo que ele não conhecia muitas realidades diferentes da dele, o que fica claro no seguinte trecho: “O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias”. Nesse trecho, o narrador também mostra que o pai não tinha contato com nenhuma escrita, por isso achava que o seu filho escrever era algo negativo. A mãe, por outro lado, era a favor do estudo e realmente estava preocupada com o filho, porém, obedecia seu marido sem hesitar. No seguinte trecho, fica claro o desespero dela ao se deparar com a diferença do filho “A mãe, em desespero, pediu clemência.”. O médico aparece como um homem preocupado que concorda com os pais e acha que o filho realmente tem algo diferente, porém, ele diz que não tem tempo para analisar algo como isso “Mas nem chegou a começar. O doutor o interrompeu: — Não tenho tempo, moço, isto aqui não é nenhuma clinica psiquiátrica.”. É possível perceber que podemos conhecer os personagens a partir das decisões (falas) e breves descrições que são feitas. O que me intrigou muito é que entre todos os personagens, Mia só deu nome para a mãe, o que fez com que os outros personagens fossem conhecidos pelas suas funções (pai/mecânico, médico e filho/filho do mecânico). Em minha opinião isso acontece porque a mãe era a única que realmente se preocupava com o menino, então ela era a única que devia ter um laço com ele, fazendo com que ela fosse a única relevante para o filho. Além disso, até nos nomes dos personagens é reforçado o fato de que o menino que fazia versos era filho do mecânico e isso é feito para explicitar a diferença entre os que os dois gostavam de fazer.

Nesse conto, existem 3 personagens que são tipos e um que é multifacetado. Os personagens tipos são, em minha opinião, o pai, a mãe e o filho, porque eles são de um jeito durante toda a narrativa, eles não mudam de opinião e nem de perspectiva. O personagem multifacetado seria o médico que no começo do conto achava estranho um menino escrever versos, mas não ligava muito e alegava não ter tempo para “problemas psiquiátricos”, porém, no final ele insiste para o menino continuar lendo (o que mostra que ele mudou de ideia em relação aos versos e a escrita).

O narrador é em 3ª pessoa intruso, pois ele só aparece na narrativa para descrever ações ou personalidades (o que acontece só no começo na descrição do pai), sendo que isso só ocorre durante as falas, ou seja, o texto é estruturado pela mesma quantidade de falas e descrições. Porém, o jeito que ele narra faz com que certos fatos sejam explicitados. Em um trecho, o narrador fala que o pai queria que o médico “afinasse o sangue, calibrasse os pulmões e, sobretudo, lhe espreitassem o nível do óleo na figadeira”, deixando clara a ignorância que o pai tinha em relação a outros assuntos que não fossem relacionados com mecânica. Essa opinião permanece durante todo o conto.

Além de deixar clara a ignorância do pai em relação aos estudos, o narrador também mostra como o pai não sabia nada sobre as pessoas. Para ele, seu filho era uma máquina programada que deveria fazer o que os garotos (também programados) faziam naquela idade. Porém, ao se deparar com os versos do filho, é como se o mecânico se deparasse com um problema de funcionamento e por isso ele tinha tanta necessidade de consertar esse erro.

O plano da expressão também é muito importante para o narrador, pois ele recria a história dando ênfase à “vergonha familiar” e à ignorância do pai. Para isso, o narrador usa muitas metáforas, como quando ele pede para “afinar o sangue” ou até mesmo “o pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino”. Nesse último trecho, ele brinca novamente, com a profissão do pai e com a opinião deste.

Toda a história aparece no consultório e esse não é muito caracterizado, pois o principal da história é contar sobre a “doença” e sobre a diferença de gostos. Além disso, só sabemos do consultório porque o filho foi consultar um médico e porque no final do conto essa ideia é confirmada “Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica, que o menino seria sujeito a devido tratamento. E assim se procedeu.”.

 

Rafaella Pozza, 1°B

“Conto de escola”, de Machado de Assis

O conto se passa num período de um dia. Começa com um menino indo para a escola, no ano de 1840. Embora o garoto caminhasse para a instituição de ensino, pensava seriamente em cabular aula, pois o dia estava bonito, porém ao lembrar-se da surra que levara de seu pai na última vez que faltara, mudou de ideia.O menino chega à escola, pouco antes das lições de gramática.  Entrou na sala pouco antes do mestre. Este era muito rígido e severo.  Então as lições de gramática começaram. Ao mesmo tempo, é apresentado ao leitor, Raimundo, um colega da turma do narrador que era filho do mestre, e por isso o mestre tinha especial rigidez com ele. Raimundo estava com dificuldade para compreender uma lição de sintaxe, então oferece ao narrador uma moeda que sua mãe tinha lhe dado, para que o narrador explicasse o conteúdo, e seu pai não o punisse. Este, por sua vez, aceita a proposta. Após alguns minutos de tensão, a troca é realizada. Porém Curvelo, um colega de sala deles, um pouco mais velho, os denuncia ao mestre, de modo que ambos são punidos, e o mestre arremessa a moeda pela janela. Em casa, o narrador não comentou nada. No dia seguinte tentou procurar a moeda que fora jogada pela janela. Porém alguns soldados passaram marchando, o que desviou sua atenção. Logo esqueceu a moeda e começou a seguir os soldados, faltando na escola.

Raimundo é um menino pequeno e delicado, não exatamente o mais inteligente da sala. Vive sob pressão de seu pai, que exige mais dele do que do resto da turma. Suas características físicas condizem muito com sua personalidade.

Curvelo era o mais velho da turma, era também o mais levado. São essas as informações que o narrador nos passa sobre esta personagem.

O mestre era extremamente rígido e tinha uma personalidade um tanto quanto agressiva.

O narrador é em primeira pessoa e protagonista; por isso, narra a história do centro; como se pode notar em trechos como “deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar a manhã”. Seu vocabulário não é o de um indivíduo com menos de onze anos (em determinado momento do conto diz que o menino mais velho de sua turma tinha 11 anos), portanto pode-se concluir que os fatos narrados pertencem a um passado. Este conhece o suficiente, para a narrativa ter sentido, da vida de cada um dos envolvidos no fato contado.

Por utilizar este tipo de narrador, que conhece profundamente a história; acredito que o autor tinha a intenção de mostrar, implicitamente, que a infância é uma parte da vida onde se enxerga acontecimentos comuns e pequenos, como aventuras.

O autor, neste conto, não trabalha com metáforas e conotações. Tudo que diz é no sentido literal, de modo que o enredo se destaque.

Existe uma questão no texto que é a da ética. O menino se questiona sobre o que é certo na situação que se encontra. O correto a seu ver é explicitamente conflitante com o correto na visão do menino que os dedura.

 

Frederico Bittencourt Salemi, 1°B

“Conto de verão n°2: Bandeira Branca”, de Luis Fernando Verissimo

O conto “Bandeira Branca”, de Luís Fernando Veríssimo, é sobre uma história de amor não correspondido. Tudo começa em um baile de Carnaval de um clube, quando os personagens principais, Píndaro e Janice, se conhecem aos 4 anos de idade.

Todo ano nessa mesma época eles se encontram nesse mesmo baile. Como Janice não morava na cidade em que ocorre essa festa, ela não comparece a alguns carnavais, decepcionando as expectativas de Píndaro, que a essa altura do enredo já está apaixonado.

Ao longo do conto ambos vão crescendo, assim como o amor de Píndaro por Janice, e o conflito vai aumentando e chegando cada vez mais perto do clímax, até que no oitavo baile eles dançam a música Bandeira Branca e se despedem com um beijo na bochecha. No carnaval seguinte, quando tinham 13 anos, se encontram e se beijam durante toda a festa, e no final, Janice deixa com ele, como uma lembrança, o leque que fazia parte de sua fantasia de bailarina espanhola.

Eles se veem após 2 anos e ela não demonstra ter nenhum sentimento por ele, que fica completamente desolado. Depois de muitos anos eles se reencontram em um carnaval, mas no aeroporto, cada um com a sua vida feita. Ele sempre demonstrando e sentindo um afeto e carinho por Janice, enquanto que ela nem ao menos lembrava seu nome.

Podemos perceber uma progressão ao longo do texto, primeiramente eles fazem um montinho de confetes espalhados pelo chão, depois eles ficam de mãos dadas, no carnaval seguinte, eles se falam, então dançam juntos e se despedem com um beijo, acontece o tão esperado beijo, e quando estão maiores, não se falam direito e por fim não se falam mais.

O narrador é em terceira pessoa, onisciente, e sempre nos conta a história pela visão do Píndaro, mas no final, revela alguns pensamentos de Janice. Ele sempre apresenta os fatos de cima, mas muda a sua perspectiva quando ele fala dos sentimentos do personagem principal. O narrador faz com que nós, leitores, entendamos Píndaro, e que partilhamos de seus mesmos valores sentimentais. Uma forma de fazer isso é mostrar como Píndaro sofria por Janice, tanto que em um dos bailes ele bebeu demais e depois vomitou até a alma.

A construção dos personagens não é muito profunda, ou seja, não há muitos detalhes. Um aspecto muito forte do texto é que o narrador sempre caracteriza os personagens principais com a fantasia que estão usando no baile, então não temos uma ideia de como eles são fisicamente, por isso eles são considerados personagens multifacetados, pois evoluem a partir das ações. Um  recurso muito peculiar que Luís Fernando Veríssimo usa para se referir à Píndaro e Janice é como uso de pronomes “ele” e “ela”, por exemplo: “Ele: tirolês. Ela: odalisca”; “Ele com o mesmo tirolês, agora apertado nos fundilhos, ela de egípcia”.

O espaço do conto é quase sempre o mesmo, no salão de festas do Clube, que também não temos uma ideia de como ele é, pois o narrador não o apresenta tão detalhadamente. Na última cena o cenário passa a ser o aeroporto, quando se reencontram depois de muito tempo.

Um aspecto muito interessante do conto é que há uma repetição da situação inicial a cada ano que se passa. Assim, nos familiarizamos com a história e com os personagens, e percebemos como e por quê Píndaro se apaixonou por Janice. Outro aspecto que se destaca bastante ao longo da história é que a cada fase da vida (infância, adolescência e adulta) dos personagens principais, começa um novo bloco (há uma separação gráfica entre eles).

 

Beatriz Vinci, 1°B

“O relógio de ouro”, de Machado de Assis

No inicio do conto, o personagem principal, Luis Negreiros, chega em casa e se depara com um lindo e grande relógio de ouro. Logo em seguida, ele tenta de todas as formas descobrir de quem era aquele relógio, durante todo o conto o narrador dá uma visão do Luis como um cara agressivo e ciumento, mas que ao mesmo tempo ama a mulher (Clarinha) e tenta sempre achar uma desculpa na qual ela não esteja envolvida e não seja nada grave, por exemplo: se o relógio era do sogro, se a esposa ia dar no aniversário dele, e etc.. e em oposição ele mostra Clarinha sempre como uma mulher sensível, triste e que se arrepende de algo, usando adjetivos como pequena e delgada. Com o decorrer do conto o leitor passa a pensar que aquele relógio é de um suposto namorado da Clarinha, ou seja ela estava traindo o Luis. Então, no final, ele descobre que o relógio era um presente de alguém para ele mesmo, que veio junto com uma carta que estava escrita: “Meu nhonhô. Sei que amanhã fazes anos; mando-te esta lembrança”.

O narrador é em terceira pessoa neutro, e ele o conta do centro, como se ele estivesse no local onde tudo está acontecendo.

Algo que me chamou bastante atenção no conto foi que ele acaba em um ponto no qual o leitor descobre de quem era o relógio, porém não é possível saber o que vai acontecer depois, ou seja, ele deixa em aberto a continuação da história, não é possível saber se o casal continua junto, se ocorre uma briga eetc..

Outro aspecto a se destacar no texto é que durante todo o conto Machado de Assis mostra apenas o ãngulo de visão do personagem principal (que é o Luis), ou seja, ele faz o leitor pensar que a Clarinha que está traindo-o, quando na verdade o que está acontecendo é o contrário. Dessa forma ele mostra para o leitor que nem sempre o ponto de vista do personagem principal é o único.

O nome dos personagens também são muito importantes, por exemplo Luis Negreiros, um nome composto, que dá um certo ar de comandante, um nome mais chamativo, e Clarinha, um nome que está no diminutivo, dando um ar de fraqueza e inferioridade, ou seja, Machado de Assis vai manipulando a mente do leitor desde o início para que ele  veja e acredite no ponto de vista do personagem principal.

 

Alberto Hiroshi Okawa Filho, 1°B

“O coração delator”, de Edgar Allan Poe

A história começa com um homem narrando os fatos do passado do lugar onde ele está no presente, que provavelmente é uma prisão. Ele conta que trabalhava para um velho que tinha um olho azul envolvido por uma membrana, de uma cor diferente de seu outro olho. O velho nunca tinha feito mal ao homem, no entanto, ele ficava cada vez mais perturbado e fascinado com seu olho branco. Uma noite, enquanto o velho dorme, ele vai ao seu quarto com uma lanterna e faz barulho sem querer, acordando-o. A tensão no quarto escuro só aumenta e o homem consegue ouvir as batidas de seu coração. Isso o perturba e ele abre a lanterna, conseguindo ver apenas o olho branco do velho. Furioso, ele se lança sobre a cama e o derruba no chão, matando-o. Depois, quando o coração para de bater, ele esquarteja o cadáver e o esconde embaixo do chão. No dia seguinte, os policiais vão até sua casa para investigar o sumiço do velho. O homem está tranquilo, até que começa a ouvir novamente as batidas do coração do velho, e isso o aflige. Os policiais não ouvem o coração bater, e sua aflição só aumenta, até que ele revela o crime que cometeu.

Na história, as personagens são o velho e o homem, que está narrando o conto. É narrado em primeira pessoa então, tendo um único personagem multifacetado, que é o homem. Nada se sabe muito a respeito do velho, mas supõe-se que o homem (narrador) seja enfermeiro dele. Ele não dá muita descrição sobre o velho, apenas sobre seu olho, que é o objeto de seu foco. O narrador deste conto é bem peculiar; não tem nome e apresenta sinais de insanidade ao longo do conto, enquanto procura narrar o que acontece, e algo bem marcante é a frequência com que ele se dirige ao leitor no meio de sua narrativa. Os fatos são narrados com ele contando do presente algo que aconteceu no passado. É interessante observar como a loucura e aflição do narrador cresce ao longo do conto, enquanto ele conversa com o leitor, como dito anteriormente.

O espaço onde o conto acontece é a casa do velho, mas ela não é muito descrita (só são descritos o chão de madeira e as janelas com as venezianas fechadas). No entanto, pelo modo como o narrador fala, dá a impressão de que a casa tem um aspecto sombrio e antigo e está sempre em uma penumbra. Isso ocorre também porque a maioria dos fatos é narrada à noite, quando acontece o clímax. A atmosfera sombria está sempre presente no conto e se destaca principalmente nas horas em que o narrador está no quarto do velho, à noite, e descreve como o quarto é escuro (pois as venezianas são fechadas) e ele tem que usar uma lanterna.

Os aspectos que mais se destacam no conto são os da atmosfera sombria e da insanidade, além da “conversa” do narrador com o leitor. Durante todo o conto, o narrador fala de um jeito calmo e depois tem uns “surtos” de loucura, principalmente durante suas “conversas” com o leitor, quando ele diz que não está louco, pois como vemos, sua loucura cresce durante o conto.

 

Joanna Bass Cavalera, 1°B

“A avó, a cidade e o semáforo”, de Mia Couto

O conto “A avó, a cidade e o semáforo”, escrito por Mia Couto, é sobre um jovem, que é o próprio narrador da história, e sua avó, Ndzima, que por sinal se preocupava muito com seu neto. Como o rapaz tinha sido o melhor professor rural, havia ganhado um prêmio do Ministério, que era conhecer a cidade grande, se hospedando em um hotel. Quando ele anunciou isso para sua avó, ela ficou muito preocupada e começou a fazer muitas perguntas para o neto. Sua maior preocupação era com a comida, quem iria cozinhar para ele, pois para Ndzima cozinhar era um modo de amar os outros. Sua segunda maior preocupação era com a cama, pois para ela era importante quem arrumava as mesmas. Ndzima estranhava tudo que era da cidade, pelo fato de nunca ter saído da aldeia e pelo fato de lá ser tudo muito simples.

No dia da partida o neto vê sua avó sentada à sua espera e ela diz que estava pronta com os bilhetes na mão, além de levar várias galinhas vivas. Os dois foram juntos para a cidade e quando chegou ao hotel, a avó do menino fez um reconhecimento do lugar para ver se lhe agradava e a gerência não queria autorizar a entrada dos galináceos, até que Ndzima falou tão alto que lhe abriram as portas.

Depois de se ambientar, no dia do regresso à aldeia, Ndzima diz para seu neto que iria ficar na cidade junto com os mendigos, pois se sentia mais acolhida lá do que na sua própria aldeia. Tempos depois, o neto recebeu um bilhete da avó com dinheiro para que ele a visitasse, porque ela se sentia feliz e bem na cidade grande.

Analisando o conto, verificamos que o narrador está em primeira pessoa, é um personagem principal da história que a organiza, colocando seu ponto de vista, sendo ele também protagonista. A história foca em um momento importante da vida do personagem, uma viagem para a cidade que ele ganhou como prêmio do Ministério por ter sido o melhor professor rural. O trecho a seguir nos mostra que o narrador é em primeira pessoa e protagonista: “A mim me tinha cabido um prêmio do Ministério. Eu tinha sido o melhor professor rural. E o prêmio era visitar a grande cidade. Quando, em casa, anunciei a boa nova, a minha mais-velha não se impressionou com meu orgulho”.

O personagem se importa muito com a opinião de sua avó, Ndzima, a segunda personagem principal, uma avó muito preocupada e desconfiada, que tem firmes conceitos sobre o modo de viver e de morar, ou seja, sempre quer ter a certeza de como o neto irá dormir ou se alimentar em um local, porém é uma pessoa de hábitos muito simples por ser uma pessoa que morou quase a vida inteira em uma aldeia.

O narrador que dirige o texto, pois explica as ações na ordem que elas foram acontecendo. Os fatos acontecidos com ele são todos reais, a única coisa que ele não atesta como verdade são as opiniões da avó Ndzima. O neto pode ser considerado um personagem tipo, porque não apresenta contradições internas, ou seja, suas opiniões são as mesmas do começo ao fim da história, não evoluem ao longo da trama. Já a avó Ndizma é um personagem multifacetado, pois suas ações evoluem a partir dos acontecimentos do conto, ou seja, no final, ela que não gostava da cidade e não quis voltar para a aldeia.

A construção do espaço neste mesmo conto se dá a partir da descrição dos locais por onde o narrador anda, e assim o cenário da história é construído e varia entre o campo (aldeia) e a cidade, ou seja, a história se inicia na aldeia da avó e termina na cidade, mostrando o contraste entre o urbano e o rural.

Trata-se de um texto literário e, a partir desse fato, é possível ver que o texto possui foco no plano da expressão, faz uso de conotação e ainda possui oposições. Dentre estes três aspectos citados, o que se destaca mais no conto é a oposição, pois os dois personagens têm características e ideias opostas. Um trecho em que podemos comprovar a oposição de ideias é “Eu tinha sido o melhor professor rural e o prêmio era visitar a cidade grande. Quando, em casa, anunciei a boa nova, a minha mais velha não se impressionou com o meu orgulho. E franziu a voz”. Ou seja, com esse trecho, podemos ver que o que era motivo de orgulho para o neto, para a avó não era grande coisa, ele achando que era um aprendizado e ela se preocupando sempre com os aspectos da cidade.

No final do conto ocorre uma mudança inesperada (reviravolta) com a personagem, pois ela se adapta muito bem na cidade grande e resolve ficar por lá. O neto, por ser professor, já tem outra visão da vida. Ele, mesmo morando na aldeia, sabe melhor sobre os conhecimentos da cidade grande, se sente seguro no que irá fazer e quer vivenciar essa “aventura”.

Depois de ler o texto e refletir, podemos concluir que a história trata das relações humanas, especialmente do amor da avó pelo neto e do neto pela avó, sendo que o amor dela é preocupado e sempre tentando controlar a vida de seu neto, mas de uma maneira simples, uma preocupação com sua alimentação, hospedagem e perigos. Já o amor do neto, é um amor de respeito, sempre aceitando o que a avó dizia e nunca a confrontando.

 

Giovanna Evangelista, 1°B

“Antes do baile verde”, de Lygia Fagundes Telles

O conto é a história de uma jovem que está se arrumando para o baile de carnaval, junto com sua empregada Lu que também sairia naquele dia. As duas conversavam sobre vários assuntos, principalmente sobre os últimos dias do pai doente que precisaria dos cuidados da filha. A mulher, sem responsabilidade, com um sentimento egoísta que lhe toma, chega a ficar na dúvida se cuida de seu pai ou vai à festa. Podemos dividir o conto em quatro partes,  situação inicial, o conflito, o clímax e o desenlace. A situação inicial se dá quando Talisa e Lu conversam no quarto enquanto pregam as lantejoulas na sua fantasia. O conflito surge a partir do momento em que a empregada coloca em jogo o fato de que o pai de Talisa está morrendo e a filha não se preocupa com seu adoecimento. O clímax da história é simplesmente a dúvida que prevalece na cabeça da jovem, principalmente depois de ouvir o que a empregada disse. No fim Talisa, ao contrário do que a maioria dos leitores pensava, vai à festa sem ao menos ver o pai antes de sair, com medo de vê-lo adoecido.

Os personagens principais são Lu, a  empregada, Talisa, a patroa, seu namorado Raimundo e seu pai,  cujo nome não é relevado. Todos os personagens podem ser considerados personagens tipo. Lu sempre se posiciona diante da jovem, como uma mãe. Ela diz o que é melhor a fazer, aconselhando Talisa a não ir à festa e cuidar do pai doente. O conto se passa em um dia de carnaval, e na casa da família queao longo do enredo, parece ser um ambiente “morto” nas mesmas condições do pai que está prestes a morrer, pois ao longo da narrativa o clima é sempre de dúvida e nunca há algo que deixa o espaço em que se passa o conto “feliz”.

O tempo é cronológico, ou seja, segue a ordem em que ocorreu cada acontecimento. O narrador em 3ª pessoa é observador, e desempenha a função de direção e organização do texto,  como se pode ver em “A mulher não respondeu. Ouvia com expressão deliciada a música de um bolo que passava já longínquo “. Além disso, ele conta a história de cima, pois ele descreve os fatos, mas não entra na história de forma significativa. Podemos perceber isso a partir dos seguintes trechos:

Um carro passou na rua, buzinando freneticamente. Alguns meninos puseram-se a cantar aos gritos, o compasso marcado pelas batidas numa panela: A coroa do rei não é de ouro nem de prata…

“Trocaram um rápido olhar. Bagas de suor escorriam pelas têmporas verdes da jovem, um suor turvo como o sumo de uma casca de limão. O som prolongado de uma buzina se fragmentou lá fora. Subiu poderoso o som do relógio. ”

O aspecto que mais se destaca no conto é a conotação, ou seja, o uso da palavra no sentido simbólico. Isto é, a utilização de uma palavra que mesmo sendo ainda a mesma, tem outro significado. Por exemplo: “Se me atraso, ele começa a encher a caveira e pronto, não sai mais nada.” Esse conto mostra o conflito que uma jovem pode  ter consigo mesma, pois o fato de a jovem ficar na dúvida entre  ir a uma festa ou ficar em casa cuidando  de seu pai não significa exatamente que é egoísta, apesar de muitas pessoas acharem depois de ler o conto. A casa em que ela vive está “morta”, sem alegria, que é o contrario do que ela quer e busca encontrar na festa. O conto foi publicado também em um livro de ética, portanto há uma discussão ética sobre a atitude desta personagem. Essa discussão agrega uma série de valores, pois sabemos que a ética se da pela educação da vontade e se relaciona com a consciência moral que aparece muito nesse conto a partir do momento em que Talisa oscila em tomar uma decisão ou outra.

 

Sofia Motta, 1°B