Dia do brinquedo, gibis na sala de aula… Existe um objetivo nisso tudo?

13_6_2016

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Por Miruna Kayano

Nem tudo o que acontece no dia a dia de uma sala de aula pode ser compreendido imediatamente por observadores de fora. Muitas situações da rotina podem passar uma impressão errada para aqueles que pensam que, com um olhar, podem captar as intrincadas relações de ensino e aprendizagem, mesmo nas salas de aula de alunos muito pequenos.

Por exemplo, uma cesta com gibis empilhados num cantinho pode parecer apenas um recurso para a distração dos alunos enquanto o professor se ocupa de outra coisa, ou mesmo quando não sabe como preencher o tempo da turma. Isso pode de fato acontecer. Mas a culpa não é dos gibis nem do cantinho. Todo recurso pode ser uma fonte rica de momentos muito bem planejados pelo professor para estimular, incentivar e favorecer que os recém-inseridos no processo de alfabetização exerçam suas iniciais habilidades de leitura com autonomia, iniciativa própria, sem compromisso direto com avaliações, resultados, ou observação detalhada de seus avanços. Ou seja, momentos muito importantes para que as crianças ampliem suas possibilidades leitoras, às vezes com apoio de um amigo, e, progressivamente, deixando de apenas folhear as páginas ilustradas para compreender, ler, reler em voz alta, e rir a cada aventura que conseguem entender.

Por isso é preciso cautela quando se recomenda aos pais que analisem a qualidade de um projeto pedagógico com indicadores dessa natureza, pois é sempre interessante buscar um diálogo que amplie as possibilidades de ir além de pequenos e grandes detalhes que fazem parte da complexidade da educação. No último dia 24 de maio, a psicóloga Rosely Sayão publicou o artigo "O que uma criança pode aprender na escola, fazendo o mesmo que em casa?" que trata exatamente dessa busca por parte das famílias de elementos que permitam uma primeira avaliação da qualidade ou não da instituição que cada uma escolherá para seu filho. Entre outras questões, ela aborda, por exemplo, o tema de algo que pode ser visto de diferentes maneiras, como o “dia do brinquedo”.

Por trás de uma situação de mera organização entre escola e famílias, ou seja, ajustando o dia em que é possível um aluno trazer seu brinquedo de casa, pode existir uma intencionalidade pedagógica? Sim. Sim quando essa decisão é tomada entre professoras e alunos, que discutem sobre os momentos de parque e avaliam que é preciso aprender a brincar sem ter necessariamente um brinquedo de casa, mas também tendo um dia para poder trazer um pouquinho de casa para dentro da escola. Sim, existe uma clara intenção pedagógica quando orientação e professoras compartilham com as famílias a importância de selecionar com seus filhos e filhas um brinquedo que leve a uma brincadeira coletiva, ou seja, através de algo que possa ser compartilhado com o outro, e não de isolamento dentro de algo que restrinja a brincadeira por seu excesso de fragilidade ou por não permitir que outra criança possa participar.

E, assim, caminham as escolas, cada qual tomando suas pequenas e grandes decisões, avaliando os melhores caminhos, que são únicos e próprios, com nome e sobrenome. Ter dia do brinquedo não é sinônimo de ausência pedagógica, ter uma cesta de gibis não significa apenas querer que o aluno gaste seu tempo, cada ação foi pensada e analisada dentro desse universo tão amplo e complexo que é o do planejamento de situações didáticas e pedagógicas.