Pais: protagonistas da formatura do 3º ano

Escola da vila

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Por Susane Lancman 

O dia da colação de grau é especial, mas a maior beleza está no processo que compõe a formatura, que tem duração de quase um ano inteiro.

Todo ano é sempre igual. Mudam os personagens, grupos diferentes de alunos e pais com suas características específicas, mas fica o ritual. O que mais me emociona é ver o processo de construção da formatura por parte dos alunos. A escolha dos paraninfos, dos oradores, do mestre de cerimônias, do discurso e da surpresa para os pais. E, por parte dos pais, a escolha do tema, os comes e bebes, a decoração, e a SURPRESA PARA OS FILHOS.

Em relação aos pais, tudo começa na primeira reunião, em que é apresentada a ideia de eles estarem à frente de algumas decisões relacionadas à formatura. Mostram-se exemplos de anos anteriores, decide-se o local da Escola que será usado, são formadas comissões, e é agendado o primeiro encontro. A primeira decisão é relativa ao tema: “Qual característica dos alunos poderia se revelar como um tema do grupo?”. A partir daí, pensa-se na decoração, nos discursos... E as reuniões seguem com diferentes pautas até tudo estar organizado.

O número de reuniões varia de ano para ano, bem como a quantidade de pais participantes do processo. Cada grupo de pais é único, com criações peculiares, tornando a formatura uma surpresa para todos.

Durante as férias contei inúmeras vezes para amigos e familiares o processo de formatura dos pais deste ano, especificamente o flash mob. Para que não fiquem mal-entendidos, escrevo sobre essa última formatura pelo fato de a lembrança ser recente e ainda estar viva, e pela grande emoção que gerou nos pais, como é possível ler no relato a seguir, de Priscila, mãe do Caio Canedo Romano.

Descrevo brevemente, como espectadora, o que vi: os discursos terminam, os mestres de cerimônia descem do palco, 450 pessoas sentadas em suas cadeiras, alunos se localizam no centro, pais e convidados estão nas cadeiras no fundo e nas laterais da quadra. Segundos de silêncio, uma música começa a tocar, uma mãe se levanta da cadeira, dança em seu próprio lugar,  senta-se novamente, e a música continua. Três pais se levantam das cadeiras, dançam no próprio lugar, e sentam-se. Os alunos se entreolham, e a música continua.  Dez pais se levantam, eles dançam e sentam-se, e a música continua. Os alunos ficam boquiabertos. Trinta pais se levantam, eles dançam e sentam-se, e a música continua. Os alunos parecem paralisados. Mais de cem pais se levantam, saindo dos mais diferentes cantos do ginásio, e dançam. Eles se dirigem para a frente do palco, a música contagia a todos, os pais se juntam do lado esquerdo do ginásio, e dançam... incrivelmente coordenados, sintonizados e emocionados. Os alunos parecem atônitos! A música termina, e a ovação é geral.

Antes de dar voz à mãe, vale dizer que, todos os anos, participar da finalização do ciclo de escolaridade obrigatório gera um sentimento dúbio. Parafraseando Ferreira Gullar:

Uma parte de mim

É a tristeza com a partida dos formandos.

Outra parte é a felicidade

De vê-los ultrapassando os muros da escola. 

Uma parte de mim

Sofre com a mudança.

Outra parte vislumbra

E se deslumbra com o novo.

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Uma experiência que vale a pena contar

Por Priscila Canedo

Eu queria falar sobre como uma vivência artística pode unir, tocar e transformar um grupo de pessoas. A criação do flash mob que apresentamos para os nossos filhos na noite de formatura foi uma experiência que vale a pena contar, porque toda aquela emoção que contagiou as pessoas na hora foi um processo que nasceu singelo e cresceu.

A colação de grau do Ensino Médio é toda organizada pelos pais, com inteiro suporte da escola. Como em todo evento de formatura, têm os discursos dos coordenadores, dos paraninfos e oradores. Os filhos fazem uma homenagem aos pais, e os pais aos filhos.

A verdade é que, com o turbilhão da vida diária, juntar um grupo de pais para discutir e organizar uma festa e uma homenagem não é fácil. O propósito de todos é o mesmo, as ideias são muitas, mas a rotina pessoal de cada família dificulta o encontro. O grupo inicial que começou a preparar a festa era bem pequeno, formado por mães e pais que tinham certa afinidade ou que já haviam organizado formaturas de filhos mais velhos em anos anteriores.

O projeto flash mob idealizado por esse pequeno grupo nos foi apresentado na última reunião entre pais e professores da escola. Ninguém sabia muito bem o que viria dali para a frente. Eu tive a impressão de que aquele momento de apresentação seria para recrutar o maior número de pais possível para participar, e também para conhecer o nosso facilitador e coreógrafo, Rubens de Oliveira, que já naquela noite fez a gente dar uns passinhos, movimentar o nosso corpo e dar muitas risadas.

Foi lindo! Durante mais ou menos dois meses, nós, pais de alunos do terceiro ano do Ensino Médio nos reuníamos às quartas-feiras para dançar. Aquele pequeno grupo foi crescendo e se conectando a cada ensaio, com exercícios de respiração, dinâmicas de integração, e muito movimento. Nos primeiros encontros a gente ia chegando devagar, cumprimentando os demais com um aceno tímido, recebendo os comandos e obedecendo. A conexão foi progressiva. A cada encontro notava-se a evolução e crescia o envolvimento de cada um.

Uma vez, fomos divididos em grupos e o Rubens nos propôs pensarmos em uma palavra para dizer aos nossos filhos, e com essa palavra deveríamos criar uma pequena coreografia para expressá-la. Foi uma missão divertida, que nos fez perceber que estávamos fortemente conectados. Dos cinco grupos formados, quatro deles escolheram a mesma palavra: coragem.

As relações se fortaleceram! No ensaio geral o clima foi de ansiedade e comprometimento. A apresentação seria uma surpresa para a maioria dos filhos. Quando a música começou e ainda nada acontecia, eu fiquei olhando a expressão da molecada. Eles se viravam de um lado para o outro à procura do que poderia acontecer. Foi quando as primeiras mães se levantaram, depois os pais, até que todos começaram a dançar e a coroar toda essa vivência que passamos juntos.